03.02.2020 | Saindo de Wadi Rum, dirigimos durante 4 horas até Amã, onde devolvemos nosso carro alugado. De lá, pegamos um Uber até a Allenby/King Hussein Bridge, onde fica uma das fronteiras da Jordânia com Israel, cerca de 40 minutos de Amã. Apesar dessa fronteira ser pouco utilizada por turistas (a maioria cruza pelo Sul apenas para visitar Petra), sua proximidade com Jerusalém fazia muito sentido pro nosso roteiro, então resolvemos nos aventurar nela. E tudo ocorreu mais tranquilo que o planejado! O motorista do Uber nos ajudou a encontrar o terminal de turistas, onde fizemos o processo de saída do país – mesmo com o Jordan Pass, é preciso pagar 10 JOD (~12 USD) para sair do país. De lá, pegamos um shuttle para atravessar a ponte, cruzando o Rio Jordão, que demarca a fronteira entre os dois países. Carros privados não são autorizados, então todos ficam reféns ao serviço de shuttle que custa 7 JOD por pessoa (+1,5 JOD por mala). No final das contas, para 4 pessoas (nós e os pais da Gabi), gastamos aproximadamente R$ 230 para cruzar uma distância de 5 km. Welcome to Israel – o país é tido como um dos mais caros para viajar! 😳😅
Já no lado israelense, passamos pelo processo completo de segurança para dar entrada no país, mas sem grandes problemas. Ser brasileiro nessas horas sempre ajuda (antes do COVID pelo menos)! 😁 Terminado o processo de imigração, nos informamos sobre as alternativas de transporte e acabamos pegando uma van que custa 50 ILS (~15 USD) por pessoa e leva até o Damascus Gate, uma das entradas da cidade antiga de Jerusalém. Por fim, pegamos um táxi e finalmente chegamos no nosso AirBnb, que era super aconchegante e bem localizado. Depois de um dia todo de viagem (e muito gasto com transporte), só queríamos banho, janta e uma cama pra dormir. 🥱
Reservamos o AirBnb por 5 noites e usamos Jerusalém de base para também conhecer Belém (na Palestina) e a região do Mar Morto.
Decidimos começar nosso passeio na Terra Santa por Belém (ou Bethelem), na Palestina. As locadoras de carro não permitem cruzar a fronteira e, por conta disso, muitas pessoas optam por fazer tours de meio dia ou pegar um táxi privado. No entanto, encontramos muitos relatos de pessoas que visitam a região com ônibus de linha (número 231), uma forma bem mais econômica (7 ILS por pessoa) e super tranquila de se chegar até lá.
Assim, tomamos nosso café da manhã em casa e fomos para o ponto de ônibus. Pouco mais de meia hora de viagem, já estávamos na Palestina. A viagem de ônibus choca um pouco, pois conforme nos aproximávamos de Belém, viamos os muros gigantescos que separam o território palestino e israelense ficarem mais evidentes. 🙁
Saímos na última parada da linha e de lá caminhamos direto para a Igreja da Natividade, onde está a gruta em que Jesus teria nascido. Chegamos lá por volta das 12h e pudemos visitar o local com bastante calma, praticamente uma visita privada. Essa foi outra vantagem de irmos por conta própria – nesse horário, a maioria dos tours estão saindo ou voltando a Jerusalém.
A igreja é bem simples, mas nem por isso deixa de ser especial. Para entrar, passa-se pela chamada Porta da Humildade, uma pequena entrada de 1,25 de altura que faz com que todos tenham que se inclinar para passar. A Gruta da Natividade fica atrás do altar da igreja. Lá, está a estrela de prata de 18 pontas que marca o local onde Jesus Cristo teria nascido e onde os devotos fazem fila para rezar e tirar fotos. Logo ao lado, está a capela da manjedoura, outro local venerado pelos fiéis.








Almoçamos um shawarma (sanduíche árabe típico) ali perto e por volta das 14h voltamos até a igreja para comprar umas lembrancinhas. Nessa hora, a igreja já estava lotada. Ainda bem que fomos mais cedo! Saindo de lá, caminhamos pelo Souk, onde a mãe da Gabi ficou encantada com os lenços e levou uma coleção pro Brasil. 😅




Depois, seguimos para a Gruta do Leite, onde, segundo a tradição, Maria teria buscado refúgio para amamentar Jesus e uma gota de seu leite teria caído no chão e coberto tudo de branco. Hoje em dia, o local atrai mulheres com dificuldade de engravidar que procuram a capela para serem abençoadas.


Saindo um pouco da parte histórica e religiosa, seguimos em direção aos muros que separam a Palestina de Israel, os quais são cobertos de graffiti e mensagens de protesto. Um dos grandes nomes é o do artista Banksy, o qual realizou alguns dos seus trabalhos mais icônicos ali. A proximidade com os muros e as torres de vigilância com policiais armados acabaram nos chocando ainda mais. Sem entrar no mérito de quem está certo, ver muros que lembram os de Berlim em pleno 2020 é muito triste! 😞








Na volta, compramos um franguinho assado de padaria, hummus e legumes, e aproveitamos a cozinha no AirBnb para jantar em casa e descansar para os dias cheios que tínhamos pela frente.
No dia seguinte, começamos com um walking tour pela cidade antiga de Jerusalém. A Gabi descobriu uma guia em espanhol (Sandeman free walking tour) e assim ficou mais fácil pra todo mundo acompanhar. O tour de 2h foi focado na história da cidade e na diversidade de povos e culturas que dominaram a região. A cidade murada divide-se em 4 partes que contemplam judeus, árabes, cristãos e armênios. O tour passou por todas elas, além dos pontos turísticos clássicos, como o Muro das Lamentações e a Igreja do Santo Sepulcro (mais informações a seguir). A guia, uma judia não praticamente, ainda nos deu um panorama sobre a religião e a cultura judaica que geram enorme curiosidade de quem visita a região.
Ao término do tour, decidimos sair da cidade antiga e caminhar até o Yehuda Market para almoçar. Lá, fomos conhecer o Azura, um restaurante típico israelense, com pratos deliciosos e preços amigáveis. Além de hummus, provamos alguns pratos a base de beringela e carne. Tudo muito bom! Na saída, ainda aproveitamos para provar alguns docinhos locais com café. 😋




A tarde, voltamos para a cidade antiga e aproveitamos o pouco movimento para ir direto à Igreja do Santo Sepulcro, local que incorpora as 5 estações finais da Via Sacra (paradas 10 a 14). Ficamos algumas horas por lá conhecendo todos os principais pontos, entre eles o local onde Jesus teria sido pregado a cruz (11a estação), a rocha do Calvário, onde a cruz teria sido erguida e que pode ser tocada através de um altar (12a estação), o local onde o corpo de Jesus teria sido retirado da cruz (13a estação) e a tumba onde Jesus foi enterrado e teria ressuscitado (14a estação).










Conforme a tradição cristã, qualquer objeto que tocou o corpo de Cristo é considerado uma relíquia de “1o grau” (caso da rocha onde Jesus foi colocado após ser retirado da cruz) e qualquer objeto que toca uma relíquia de 1o grau passa a ser considerado uma relíquia de “2o grau”. Assim, aproveitamos para abençoar algumas lembranças que seriam enviadas ao Brasil. 😊


Um fato curioso é que diversas religiões cristãs (católica, grega ortodoxa, armênia ortodoxa, síria, copta e etíope) dividem o controle da igreja e cada altar é decorado com base na religião respectiva. Além disso, há uma certa “disputa” entre essas religiões sobre o controle de fato da igreja e, para evitar conflitos, a chave da igreja fica com uma família muçulmana que diariamente abre e fecha as portas da igreja na presença de representantes das 6 religiões cristãs. 🙄
Nosso último dia de turismo por Jerusalém foi também o mais intenso! Começamos pelo Monte das Oliveiras. Pegamos um ônibus até o topo e de lá fomos descendo a pé. O monte, apesar de não ser muito alto, é cheio de atrações no seu caminho. A primeira parada foi na Capela da Ascensão, local onde Jesus teria subido aos céus e deixado a marca de seu pé sobre uma rocha. De lá, fomos até a Igreja do Pai Nosso, onde Jesus teria ensinado o Pai Nosso aos seus discípulos. A igreja hoje é coberta de placas com a mesma oração em mais de 140 diferentes línguas.



Na sequência, passamos pelo famoso mirante do Monte com vista para o cemitério judeu e a cidade murada de Jerusalém (com destaque para a vista da cúpula dourada).


Fechamos o passeio pelo Monte das Oliveiras passando pela Igreja de Maria Madalena, uma igreja russa ortodoxa com lindas cúpulas douradas; pela Igreja das Nações, onde se encontra o jardim de oliveiras milenares onde Jesus e seus discípulos teriam orado na noite anterior a crucificação; e por fim pela Igreja da Assunção, onde acredita-se que está a Tumba de Maria.







Saindo de lá, fomos em direção à cidade murada, mas fomos impedidos de entrar por uma espécie de blitz policial. Achamos inicialmente que poderia ter a ver com a visita de alguma autoridade, mas depois descobrimos que havia acontecido um ataque de um palestino contra policiais israelenses. Infelizmente acabamos sentindo de perto a realidade desse conflito sem fim… 🙁
Decidimos sair de lá e entrar na cidade antiga por outra entrada próxima que estava aberta. Já era hora do almoço e a Gabi havia lido sobre um restaurante de hummus chamado Lina. Fomos direto lá e não nos arrependemos. Hummus, pita, falafel – tudo delicioso! E com preço bem razoável considerando Israel obviamente. 😅
Para fazer a digestão, decidimos caminhar pelas estações da Via Dolorosa, como é conhecida a via Sacra por lá. Fizemos o caminho inverso e saímos da Igreja do Santo Sepulcro, onde estão as estações 10-14, e fomos caminhando até as primeiras estações, tentando relembrar todos os passos descritos na Bíblia de trás pra frente.





Na sequência, tentamos “inocentemente” visitar a Cúpula da Rocha, a bela Cúpula Dourada que enfeita o horizonte de Jerusalém. A história dessa cúpula é interessante e confesso que desconhecia a importância religiosa desse monumento até visitar a cidade. Dentro da cúpula há uma rocha onde, segundo os judeus, Abraão (patriarca dos judeus) sacrificaria seu filho Isaac até ser impedido por Deus (uma das principais histórias do antigo testamento). Os judeus, desde então, veneram esse local e o consideram como o centro do mundo. Por outro lado, esse mesmo local é tido pelos muçulmanos como o local onde Maomé ascendeu aos céus e há supostamente a marca de seu pé em uma face da rocha. Dessa forma, durante domínio muçulmano no século 7 d.C., decidiu-se construir uma cúpula sobre a rocha como forma de criar um senso de orgulho entre os muçulmanos, bem como demonstrar às demais religiões a importância e grandiosidade do Islã. 😏
Bom, com isso, até hoje apenas muçulmanos têm acesso ao interior do domo. Demais visitantes podem acessar a área externa do monumento apenas em dias e horários específicos fora dos dias que estaríamos na cidade. Assim, tivemos que nos contentar apenas com as fotos de longe… 😐



Apesar de cansados, faltava conhecer ainda um dos locais mais emblemáticos de Jerusalém, o Muro das Lamentações. Um pouco mais de história: o Muro das Lamentações é um pedaço da antiga estrutura do Templo de Salomão, o qual abrigava, entre outros, a famosa rocha onde Abraão teria sido testado por Deus e que hoje está sob a Cúpula Dourada. Assim, a importância desse muro milenar está diretamente ligada à rocha, a qual não pode ser acessada por judeus. Dessa forma, o Muro se tornou o local mais sagrado do judaísmo por ser o local mais próximo à rocha que os judeus tem acesso e podem orar livremente. 🤓
A dinâmica no Muro é bem curiosa. O Muro é aberto a todos, mas mulheres e homens rezam separados. Os homens precisam ter sempre a cabeça coberta, mas kippahs descartáveis são oferecidos gratuitamente. Judeus ortodoxos rezam devotamente em um movimento contínuo de inclinação do corpo para frente e trás, com algumas paradas para tocar e beijar o Muro. Outros lêem a Torá (livro sagrado dos judeus) de forma contínua, como um mantra. As fendas entre as pedras que compõem o Muro estão repletas de papéis com pedidos e orações.







Ficamos ali observando toda a movimentação e oração dos devotos, curiosos em relação a todo aquele ritual tão distante da nossa realidade, mas visivelmente muito importante para os membros do judaísmo.
Por fim, passamos mais uma vez pela Igreja do Santo Sepulcro para abençoar mais alguma lembranças e fomos comer uma pizza e tomar um vinho para fechar bem o dia. 🍕🍷😋

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