17.09.2019 | Saímos de Chefchaouen ainda no fim da manhã e seguimos viagem em direção a Fès. No caminho aproveitamos para conhecer Volubilis, que abriga ruínas de uma antiga cidade romana , uma das mais bem preservadas do mundo, o que lhe confere título de Patrimônio Mundial, concedido pela UNESCO.
Estudos mostram que a região foi habitada desde o século III a.C. e a partir de I a.C. passou a fazer parte do Império Romano, sendo que as ruínas que lá permanecem são datadas do século III d.C.. Acredita-se que, na época, a cidade chegou a abrigar mais de 20 mil habitantes que se dedicavam principalmente à agricultura (grãos e azeite de oliva) por conta da fertilidade das terras no local.





Depois da visita fomos direto para Fès, que fica a pouco
menos de uma hora de carro. Nossa preocupação era chegar lá ainda durante o
dia, considerando tudo o que tínhamos escutado sobre a Medina da cidade. Com
paredes altas e ruas estreitas, você realmente se sente dentro de um labirinto.
Apesar da violência no país ser mínima, alguns locais se aproveitam para
abordar os turistas desavisados afim de ‘oferecer ajuda’ – ofertas para
conhecer Riads ou lojas imperdíveis que na verdade tem o objetivo de fazer você
se perder no emaranhado de ruas e depois ter que pagá-los para achar a saída…
E com a gente não foi diferente… Chegamos atentos, olhando para todos os lados para identificar até onde poderíamos avançar de carro na Medina. A cada momento que parávamos, já vinham nos abordar para ‘oferecer ajuda’ e tínhamos que insistir que não estávamos interessados… Chegar à luz do dia fez mesmo toda a diferença. Conseguimos por conta própria encontrar um local para estacionar próximo ao Riad, pegamos as malas e saímos caminhando pelo labirinto. Felizmente naquela região da Medina placas indicavam a direção do nosso hotel e, depois de uma certa tensão na chegada na cidade, lá estávamos nós, no Riad Amor. Como foi bom chegar lá, um Riad lindo, com um pátio amplo e chá de menta para nos recepcionar. Para quem vai até Fès, já fica a dica de onde se hospedar. 😉



No dia seguinte à nossa chegada, tomamos um café da manhã delicioso no hotel e logo saímos para o ponto de encontro de onde saiu nosso walking tour. Essa é outra dica que escutamos e também lemos em diversos blogs. Por conta da configuração da Medina, vale à pena no primeiro dia na cidade já fazer um tour guiado. Dessa forma, você encontra os principais pontos da Medina e seu interminável Souk, aprende um pouco sobre a história e evita stress. No nosso grupo mesmo tinham duas pessoas que tinham se ‘perdido’ no dia anterior porque foram enganadas por locais mal-intencionados. Além da aflição e do dinheiro perdido, você pode acabar gastando até 2-3h do seu dia com isso…
Voltando ao tour, encontramos nosso guia através do GetYourGuide, uma espécie de TripAdvisor de guias. O tour começou às 11h da manhã e só terminou por volta das 16h. Nosso guia acabou se empolgando com o grupo e o tour durou bem mais que o inicialmente programado, mas foi ótimo para conhecer os principais pontos da Medina. Dentre eles, destacamos os seguintes:
- Bab Boujloud ou Porta Azul – a principal porta de entrada da Medina, com azulejos azuis que dão nome à porta
- Talaa Kebira e Talaa Seghira – principais ruas do Souk de Fès
- Zaouia de Moulay Idriss II – onde estão os restos mortais de Idris II, fundador da cidade
- Madrasas Al Attrarine e Bou Inania – as antigas escolas religiosas para ensinamento do Corão
- Universidade Al Quaraouiyine – fundada em 859d.C. é a universidade mais antiga do mundo ainda em funcionamento
- Praça Seraffine – onde ferreiros trabalham à céu aberto
- Chouara Tannery – o maior curtume da cidade (e a foto mais clássica de Fès), construído no séc. XI e que segue até hoje o mesmo processo para tratar o couro, onde os trabalhadores entram praticamente até a cabeça dentro dos tonéis de tinta (orgânica) para dar cor ao couro cru


















Nossa programação no segundo dia foi bem mais tranquila. Tomamos um café da manhã ainda mais demorado para curtir bem o clima calmo que se tem dentro do Riad. Perto do meio-dia, eu (James) decidi conhecer um Hammam, o famoso banho turco. Confesso que pouco sabia sobre esse tradicional ritual árabe antes de chegar ao Marrocos, mas ao longo da viagem fui ficando curioso com a imensidão de ofertas em praticamente toda cidade que passávamos.
A história dos Hammams surge do fato que, nas Medinas, a maioria das casas não possuía chuveiro próprio (algumas até hoje seguem assim) e os Hammams acabam sendo o local onde as pessoas de fato tomam um banho completo (normalmente 1-2x por semana). Os Hammams mais tradicionais são públicos e divididos entre homens e mulheres. Segundo o que ouvimos falar, além do banho em si, o Hammam é também um local de socialização, onde, por exemplo, as mulheres têm a liberdade de se expressar e colocar o papo em dia. 😊
No meu caso, fui em uma versão mais light… hehe. Fui em um Hammam privado, que é uma espécie de spa. Chegando lá, pediram que eu ficasse apenas de shorts de banho e me encaminharam até uma sala (sauna) bem quente. Depois de aguardar alguns minutos, entrou um homem e, com uma escova abrasiva, começou a esfregar minha pele. O processo é bem bruto (até dolorido) e ao final você perde alguns bons quilos de pele… hehe. Depois de toda escovação, mais alguns minutos de sauna e ao final um chazinho de menta para fechar. O processo todo dura uns 45-60 min e valeu pela experiência, apesar de não ter certeza se a repetiria! 😉

Na sequência, reencontrei a Gabi para almoçar. Fomos conhecer o Café Clock. Com filiais em Marrakech, Chefchaouen e Fès, o restaurante se tornou um queridinho dos turistas, mas nem por isso é pegadinha. O ambiente é muito legal e a comida e o atendimento também são muito ótimos!!! Eu aproveitei para provar o hamburger de camelo da casa. Excelente! 😉
Durante a tarde descansamos e no fim do dia fomos até as Tumbas de Marinid, ou Tombeaux des Merinides. Localizadas fora da Medina, acredita-se que as ruínas datam do século 14. O local fica numa parte mais alta da cidade, e se tornou um ótimo programa para o pôr do sol com uma vista panorâmica par a antiga medina.



Aproveitamos que ainda estava claro e fomos até o palácio real de Fès. Esse é um dos diversos palácios que o rei tem no país. Não é possível entrar, mas sua fachada já é motivo para uma visita. As portas roubam a atenção, são sete delas, de tamanhos variados, sendo que cada uma representa um dia da semana. Feitas de metal, as portas foram talhadas à mão pelos artesãos locais, e são verdadeiras obras de arte.





Na manhã seguinte, depois de mais um super café da manhã, nos despedimos de Fès e do Riad Amor e dirigimos até Mèknes, nossa última parada no Marrocos. Chegamos na cidade no início da tarde de uma sexta-feira, dia sagrado para os muçulmanos, dedicado às rezas e ao descanso. Por conta disso, o clima na medina era muito diferente do que encontramos normalmente, a maioria das lojas do Souk estavam fechadas, tudo estava calmo. Fomos direto para nossa pousada, e seguindo a recomendação deles, fomos almoçar no Aisha, restaurante local que leva o nome da dona. Um lugar super pequeno, onde a cozinha e as mesas (duas) dividem o mesmo ambiente. Um ‘restaurante’ familiar com uma comida caseira deliciosa!
Durante a tarde cruzamos a Bab el Mansir, a principal dentre as 20 portas da cidade, sua estrutura tem 8 metros de largura e 16 de altura. A construção foi concluída em 1732, por um dos filhos que Moulay Ismail. Conhecido por ser megalomaníaco, o sutão comandou o país por mais de meio século (entre 1672 e 1727) e teve mais de 800 filhos com suas mais de 500 esposas.

Continuamos caminhando pela cidade em direção aos Estábulos Reais. O local também foi construído sob ordem de Ismail, que deixou lá também sua marca pela mania de grandeza. O espaço tinha capacidade para abrigar mais de doze mil cavalos, usados em suas batalhas. Cercado por uma grande muralha, apenas uma pequena área dos estábulos pode ser visitada atualmente. Infelizmente o local pareceu bem abandonado, consideramos a entrada cara pelo que se encontra lá. Ainda assim, é difícil não entrar uma vez que se está na cidade.



Voltamos para a pousada e aproveitamos para curtir nosso último pôr do sol no Marrocos. No dia seguinte, pegamos a estrada de volta a Casablanca. Fizemos os últimos passeios e nos despedimos dos amigos (ver post Casablanca) e seguimos viagem para a Alemanha.
O Marrocos foi um lugar super especial para nós! Foi a primeira grande aventura dessa viagem (o primeiro país que visitamos que difere da cultura ocidental) e também nossa introdução à África. É um país cheio de lugares bonitos para visitar e de gente muito acolhedora e simpática. Apesar do Marrocos ser um dos países árabes mais abertos, o papel do rei e da religião na sociedade choca quem sempre viveu no ocidente (ex. dificilmente se vê uma mulher em um café ou atendendo em uma loja). Por outro lado, apesar de ser um país com enormes problemas e muita pobreza (mais que o Brasil inclusive), praticamente não existem crimes graves… Enfim, uma grande experiência que nos dá certeza de estarmos aprendendo coisas novas e abrindo cada vez mais a cabeça, um dos grandes objetivos dessa viagem.


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