17.02.2020 | Saímos do Airbnb em Tel Aviv na madrugada de domingo para segunda-feira. Depois de pegar dois ônibus e três voos (escalas em Roma e Nova Déli), finalmente chegamos em Kochi, nosso primeiro destino na Índia.
Kochi fica no sul da Índia, em uma região/estado chamado Kerala. O sul da Índia é menos turístico e, seguindo recomendações de vários viajantes, local ideal para começar nosso tour pelo país. Nossa ideia (até então) era passar de 45-60 dias conhecendo esse país continental. 😃
Chegamos em Kochi na manhã do dia 18/02, depois de cerca de 24h de viagem e um calor de quase 30oC. 🥵 Nada mal depois de alguns meses de frio… A cidade fica um pouco longe do aeroporto (~2h de carro), mas descobrimos um ônibus local que fazia o trajeto por 180 rúpias (cerca de R$ 10) para nós dois. Viva a Índia! Depois de algumas semanas de Israel, precisávamos rebalancear o orçamento. 😅
Chegando na cidade, fomos direto para o hostel que tínhamos reservado (Zostel), tomamos um banho e saímos para comer. Maior que o cansaço, era a fome. Pesquisamos rapidamente online e decidimos ir conhecer o Mary’s Kitchen, um local simples, mas de comida deliciosa. Kochi fica no litoral e sua culinária, por consequência, é baseada em frutos-do-mar.

Por recomendação dos donos, comemos o Fish Pollichathu, um prato com peixe cozido com temperos na folha de bananeira, e Fish Molly, outro prato de peixe, dessa vez com molho à base de leite de coco. Dá água na boca só de lembrar! 😋 Gostamos tanto que resolvemos nos informar sobre a aula de culinária oferecida no local…
Para fazer a digestão, fomos caminhar à beira-mar e conhecer as famosas “chinese fishing nets”, redes de pesca centenárias em estilo chinês que são uma das atrações da cidade. As redes são grandes estruturas operadas por vários pescadores que ajudam a puxar a rede do mar através de um sistema de cordas, pedras e roldanas. Interessante! O calor e a umidade eram grandes e então logo voltamos pro hostel pra descansar um pouco e tomar um novo banho. À noite, fomos jantar no Fusion Bay e novamente nos deliciamos com a culinária local. Dessa vez, lula, camarão masala (molho indiano à base de tomate) e berinjela com molho de iogurte. Sensacional! Se toda comida indiana for assim, nossos dias serão muito felizes! 😁



No segundo dia dormimos até às 11h, afinal ainda estávamos nos acostumando ao fuso de 3,5h a mais de Israel… 😁 Tomamos um brunch longo no Qissa Cafe e depois fomos explorar um pouco da história dessa região.
Kochi tem muita história, a qual inclui colônias portuguesas e holandesas, mesquitas e sinagogas e vestígios do domínio inglês no país. A parte mais interessante para nós foi conhecer sobre a ocupação portuguesa na cidade que remonta ao século 16. Kochi foi a primeira colônia do país na região (posteriormente substituída por Goa) e importante centro comercial entre a Europa e as “Índias”. Pedro Álvares Cabral inclusive esteve por lá em 1500, conforme descobrimos ali mesmo. 😳 Não foi mesmo acaso que durante a caminhada pela parte histórica de Kochi passamos em frente a várias igrejas católicas, mas poucos templos hindus. Aliás, encontramos lindos grafites e quando fomos procurar, um deles tinha sido feito por um artista brasileiro (Tito Senna). 😃


A primeira parada do nosso tour histórico foi no Mattancherry Palace, também conhecido pelo nome de Dutch Palace (ou Palácio Holandês). O Palácio foi um presente dos portugueses ao Raja (rei) de Kochi em 1555. Posteriormente, os holandeses ocuparam a região e reformaram o Palácio e com isso o local ficou conhecido como Palácio Holandês. O lugar hoje funciona como um museu e conta partes da história da cidade, mas a grande atração do local são seus murais coloridos que cobrem as paredes com temas Hindus (infelizmente fotos são proibidas).


Depois de uma rápida pausa para um lanche e um lassi (bebida típica indiana a base de iogurte e frutas), fomos conhecer o bairro judeu e sua emblemática Sinagoga. Judeus estão presentes na região há séculos e a partir da inquisição espanhola no fim do século 15, muitos deles migraram definitivamente para a região. Assim, a primeira sinagoga do local foi construída em 1568 e, com o auxílio de algumas reformas e restaurações, segue de pé há 450 anos, sendo um importante ponto turístico… Hoje em dia, poucos judeus ainda habitam a região, mas a Sinagoga segue sendo uma das principais atrações locais. No caminho, ainda fizemos a alegria das crianças com algumas fotos. 😅


Voltamos pro hostel já no fim da tarde e logo saímos para dar uma corridinha. Apenas 5k, mas com o calor e a umidade nas alturas, foi o suficiente pra voltarmos encharcados. O bom de sair correndo pela cidade é que, além de fazer uma atividade física, é uma ótima oportunidade de presenciar cenas cotidianas e sentir um pouco mais como é a vida naquela localidade. Para fechar a corrida, fomos curtir o pôr do sol à beira-mar. À noite, a janta mais uma vez foi deliciosa e, ainda por cima, à beira do Oceano Índico, no Fort House Hotel. 😊




O último dia em Kochi foi dedicado às experiências. Tomamos um café da manhã rápido e logo já fomos para o Mary’s Kitchen, restaurante que almoçamos no nosso primeiro dia, fazer uma aula de culinária indiana. 😃 A Mary, que dá nome ao restaurante, nos ensinou, com muita paciência, a fazer cinco tradicionais pratos da região de Kerala: fish mango curry (curry de manga com peixe), prawn masala (camarões em molho de tomate com várias especiarias), tomato curry (curry de tomate), pumpkin curry (curry de abóbora) e chapati (um pão chato indiano que lembra um pão pita, muito consumido na Índia e na África). A aula durou cerca de uma hora e meia e depois tivemos a melhor parte, é claro, provar a nossa comida. Por sinal, ficou uma delícia!!! 😋





Durante a tarde, decidimos fazer uma massagem Ayurveda. O sul da Índia é o berço dessa terapia milenar que significa “Ciência da Vida” e, para muitos, funciona como um substituto da medicina tradicional. Como parte do processo, nos consultamos rapidamente com um terapeuta Ayurveda, e então fomos encaminhados para a massagem. A massagem foi a base de óleo quente e externamente relaxante. 😊
Antes de voltar pro hostel, ainda resolvemos dar uma passada rápida pela Igreja de São Francisco, construída em 1503 e tida como a mais antiga igreja europeia no país. A grande atração da igreja é a tumba onde Vasco da Gama foi enterrado em 1524, quando morreu em Kochi. Posteriormente, seus restos mortais foram levados a Portugal e hoje estão em Lisboa, no Mosteiro dos Jerônimos. De qualquer forma, a lápide segue ali para visitação, demonstrando a importância dessa cidade no período das grandes navegações e “descobrimento” do mundo.






Pra fechar o tour gastronômico em Kochi, fomos jantar em um restaurante super recomendado chamado The Roti. O local é especializado na culinária do norte da Índia e pela primeira vez provamos o famoso Thali, refeição típica indiana composta de uma seleção de vários pequenos molhos servidos com chapati, roti ou naan (foto ao lado). Mais um lugar recomendado! 😃
No dia seguinte (sexta-feira), nos despedimos de Kochi e tínhamos pela frente umas boas horas de ônibus até Munnar, no interior do estado de Kerala. Então, tomamos um café da manhã bem reforçado, mais uma vez no Qissa Café e aproveitamos para comprar uns sanduíches lá mesmo. Logo depois partimos pra rodoviária. Às 12:30h pegamos o ônibus local e éramos um dos poucos turistas à bordo. A maioria das pessoas faz esse trajeto de Uber ou transporte privado, mas nós optamos pela experiência completa. 😅
O ônibus era super simples, sem AC e estava lotado (bancos de 2 pessoas acabam acomodando 3 ou 4, e alguns iam em pé). Colocaram a gente em um banco exclusivo (privilégios de turistas 🙄) e lá fomos nós. O calor acabou nem sendo problema, pois as janelas ficavam constantemente abertas, e a vista ia ficando cada vez mais bonita conforme subíamos a serra em direção a Munnar. O que nos atraiu até essa cidade pouco conhecida são as infinitas plantações de chá que cobrem as montanhas e resultam em um visual incrível (as fotos explicam melhor). 😃
A viagem de ônibus durou um total de 4,5h e depois de mais uns 15-20 min de tuktuk, chegamos até nossa homestay (pousada familiar). Optamos por ficar fora da cidade e mais próximo à natureza que é o encanto da região. 😉
Logo que chegamos, por recomendação dos donos da pousada, subimos até uma monte próximo para ver o pôr do sol que estava espetacular! Mais tarde, para nossa surpresa, acompanhamos uma procissão (Shivaratri) em homenagem a Shiva, um dos deuses hindus mais importantes. Foi interessante observar a celebração de uma forma bem autêntica e local. Aliás, por ser um pouco afastada do centro, a região onde ficamos quase não tinha turistas estrangeiros. A comunicação inclusive era um desafio, mas só deixou a experiência mais divertida… 😅 Jantamos ali na pousada mesmo e fomos dormir cedo, pois o dia seguinte prometia.





No outro dia acordamos às 5:30h. Nos trocamos, tomamos uma xícara de café e fomos até a cidade encontrar nosso guia para nosso tão esperado trekking pelas montanhas de chá de Munnar. 🤩
O trekking começou de forma emocionante. Logo na primeira hora, o guia foi avisado que havia um elefante selvagem na região. Assim, ficamos apreensivos para tentar avistar o elefante. Infelizmente vimos ele apenas bem de longe, mas mesmo assim já valeu. O guia nos explicou que esses elefantes podem ser bem agressivos e que os locais têm muito respeito por eles. 😬
Continuamos o trekking rumo ao alto da montanha, subindo até cerca de 400m de altitude. Conforme subíamos, a vista das plantações infinitas de chá ficava mais e mais impressionante. Muito lindo!



Algumas curiosidades sobre as plantações de chá na região. O chá foi trazido para a Índia pelos ingleses no final do século 19, como uma forma de não ficaram “presos” a produção chinesa. Munnar fica a cerca de 1600m de altitude e seu clima temperado contribuiu para transformar a região na maior produtora de chá do sul da Índia. Vale lembrar aqui que os indianos consomem muitooo chá, normalmente em uma versão com leite e muito açúcar (o famoso chai). ☕️😉
A maior parte das plantações de Munnar pertence ao conglomerado indiano Tata, que fornece desde carros até serviços de hotéis e comunicação. As mulheres são a força de trabalho das plantações. Seu salário gira em torno de 5 dólares por dia para colherem um mínimo de 23kg de chá. Se colherem acima disso, ganham mais. O salário é baixo, mas a empresa também oferece casa, escola para os filhos e plano de saúde para a família, o que é bem importante visto que a maior parte dos trabalhadores vem do estado vizinho de Tamil Nadu.
O guia também nos explicou a diferença entre as tipos de chá. Diferentemente do que imaginávamos, os chás pretos e verdes são todos oriundos da mesma planta (camellia sinensis). A diferença está apenas no processo de produção. Enquanto as folhas do chá preto são expostas ao ar para oxidarem durante a secagem, as folhas do chá verde são secadas de forma diferente (através de fornos por exemplo) para prevenir a oxidação e por isso mantém a cor verde. 🍃🤓
Voltando ao trekking, paramos em um lindo mirante no alto da montanha para o nosso merecido café da manhã. Seguindo a tradição indiana, tivemos chapati e curry de batatas, tudo preparado pela esposa do nosso guia. Isso mesmo, o café da manhã deles mais parece o nosso almoço. 😅 Não sei se era a fome, mas comemos super bem! Como sobremesa, abacaxi e banana. 😋





Energias recarregadas, começamos a descida. Dessa vez, pelo outro lado da montanha, em uma floresta um pouco mais densa. Já aos pés da montanha, vimos as plantações de café e cardamomo, outras especialidades da região. Passamos por mais algumas plantações de chá e observamos o trabalho incansável das mulheres colhendo e carregando bolsas cheias de folhas de chá. Impressionante!


Ao final, nos despedimos do nosso guia e fomos almoçar e tomar um chá na cidade, a melhor forma de fechar um passeio em Munnar. 😁 Fomos no Tea Tales Cafe, que tem uma grande variedade de opções e inclusive oferece degustações. De lá, pegamos um tuktuk e voltamos pra nossa pousada. Passamos o resto do dia descansando e jantamos por lá mesmo.



No dia seguinte, saímos da pousada já com as malas e fomos em direção ao centro para visitar uma fábrica de chás. A ideia era visitar a Lockhart Tea Factory, tida como a mais famosa da região. Porém, por conta de uma falha na comunicação com o motorista do nosso tuktuk, acabamos no Tea Museum e resolvemos ficar por ali mesmo. O museu não é nada demais, mas valeu para conhecer mais detalhes do processo produtivo e fazer umas comprinhas. Além disso, aproveitamos para provar o “chá branco”. Essa variedade é feita a partir da mesma planta, porém apenas com os brotos, antes que as flores desabrochem. Esse chá é muito mais caro e tido como mais benéfico para a saúde. 🤔
Pelo o que lemos, a Lockhart oferece uma visita mais completa, além de permitir fotos nas suas plantações de chá que são bem bonitas… mas vai ter que ficar pra próxima! 😐 Pra compensar, o motorista levou a gente em algumas outras plantações próximas e a Gabi aproveitou para fazer mais uma sessão de fotos em meio ao verde. 😁



Pra fechar o passeio em Munnar, fomos almoçar em um restaurante local chamado Saravana Bhavan. O local vai ficar na nossa memória (principalmente da Gabi) por muito tempo, pois lá comemos a maior Dosa que já vimos. 😅 Dosa é uma massinha bem fina que normalmente é servida enrolada com recheio. Os indianos comem mais no café da manhã, mas o prato é um sucesso com viajantes em qualquer horário. Deem uma olhada no tamanho! 😂😂😂


E assim terminamos nossa primeira semana de Índia. Kerala deixou um gostinho de quero mais. Paisagens lindas, comida boa, pessoas simpáticas. O sul da Índia definitivamente merece ser melhor explorado. Vai ter volta! 😉 No fim do dia, seguimos em direção a Bangalore, terceira cidade mais populosa da Índia, para encontrar um amigo de longa data. Mas isso é história pro próximo post. 😊

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