Joanesburgo

11.10.2019 | It’s time for Africa!!! Depois de 3 semanas no velho continente, voltamos para África pra explorar um pouco mais esse continente tão diverso. Apesar de termos lido na maioria dos blogs que 2 noites são suficientes em Joanesburgo (ou Joburg para os íntimos), nós optamos por ficar 5. Numa viagem longa é preciso fazer os passeios com calma. Além disso, ter dias para ficar em casa também são essenciais para descanso e planejamento. Mas apesar de termos ficado o dobro de tempo que no geral é recomendado, a cidade surpreendeu, e o tempo livre foi escasso.

Joburg é história a céu aberto. Um dos principais palcos dos manifestos contra o Apartheid. Uma triste realidade que não pode ser esquecida, precisa ser entendida e ainda tem muito a ser ‘trabalhada’. Pousamos aqui numa sexta por volta do meio dia. Fomos direto pra casa, deixamos nossas coisas e saímos para almoçar e fazer compras. Ficar em Airbnb tem sido uma ótima escolha, que nos permite cozinhar, principalmente para café da manhã e janta. Foi o que fizemos na sexta 😉

O sábado já tinha programação, o Neighbourgoods Market. O Neighbourgoods é um mercado que acontece todos os sábados em Joanesburgo (e também na Cidade do Cabo) e ocupa dois andares de um prédio antigo. O lugar é tomado por barraquinhas de comida da África e outros países, além de artesanato local.

Logo na entrada encontramos o William e o Felipe.  O William é irmão da Tita, uma grande amiga de Blumenau. Ele e o Felipe vieram para a África do Sul para fazer trabalho voluntário em parceria com uma ONG de Santa Catarina. Sabíamos que eles estavam na cidade, mas o encontro não foi combinado… muita coincidência! Aproveitamos pra almoçar juntos e depois eles seguiram o roteiro e nós ficamos mais um tempo por lá, só curtindo a atmosfera do lugar.

No fim da tarde fomos para casa e a janta foi por lá mesmo. Aproveitamos para assistir o filme ‘Mandela: Longo Caminho para a Liberdade’. Baseado na biografia de mesmo nome escrita pelo próprio Mandela, o filme conta um pouco da história do Apartheid e foi ótimo para nos prepararmos para os lugares que visitaríamos nos dias a seguir.

O primeiro deles foi o museu do Apartheid, praticamente uma biblioteca em formato de museu. O museu tem uma disposição muito boa e relata em detalhes a história da segregação na África do Sul desde a chegada dos primeiros holandeses, passando pela dominação britânica, a implantação do apartheid até o “fim” em 1994 com a libertação de Mandela e outros importantes nomes da luta contra a segregação. Na época que fomos, o museu contava ainda com uma exposição especial sobre o Mandela e sua história pessoal. Em conclusão, ficamos por lá durante 4 horas e ainda assim pulamos alguns relatos. Ter assistido o filme no dia anterior deixou a visita ainda mais interessante, recomendamos. 😉 Não é permitido tirar fotos dentro do museu, mas os detalhes do ingresso e da divisão entre negros e brancos na porta de entrada já dão uma prévia de como o lugar é intrigante.

Saindo do museu fomos até Maboneng, uma região que era muito perigosa, mas foi, em parte, revitalizada e hoje abriga vários bares, rooftops e galerias de artesanato. Por lá, comemos um almojanta e depois nos juntamos ao William e ao Felipe, que estavam num rooftop bar ao lado. O fim de domingo em Joburg é agitado! Aproveitamos para tomar uma cerveja curtindo o pôr do sol com eles. 👌🍻

Na segunda pela manhã fomos até Soweto para fazer um walking tour com o pessoal do Lebo’s hostel. Recomendação do Afonso, nosso amigo de Pomerode que em 2018 morou em Joburg durante por 6 meses. Soweto, ou “South Western Townships” é um distrito fruto da segregação racial, criado para abrigar os imigrantes que se mudavam para a metrópole afim de trabalhar nas minas de ouro da região. Reduto dos negros, foi o principal cenário de protestos durante o Apartheid. Apesar do passado muito pobre, hoje felizmente a maioria dos moradores têm acesso a casas de alvenaria e uma infraestrutra básica de serviços públicos.

Por lá se pode visitar a casa que foi de Nelson Mandela, Desmond Tutu (2 ganhadores do prêmio Nobel) e o Memorial Hector Petersen, construído em memória a um grupo de estudantes negros mortos em 1976 por protestarem em prol de uma educação de qualidade (que também era segregada). Um local bem triste… 😕

O tour terminou com um almoço com comida africana, feita pelo pessoal do hostel. Por lá ainda encontramos o William e o Felipe de novo e nos despedimos de vez, já que agora nossos caminhos eram opostos.

Na terça fomos até a região de Hillbrow para uma visita guiada ao Ponte City. Uma construção que tinha como pretenção ser conhecida como o prédio residencial mais alto da África, de 173 metros, divididos em 55 andares. Mas além de ser um arranha céu que chama a atenção em Joburg, o Ponte City tornou-se mais um local interessante para visitar e entender melhor o impacto do Apartheid na vida das pessoas e na configuração da cidade.

À época da construção, em 1975, a localização do prédio era tida como nobre, para abrigar a elite branca. No decorrer do Apartheid a região se tornou perigosa, por conta da atuação de algumas gangues. Com isso, o prédio por muito tempo ficou abandonado e se transformou em uma grande ocupação. Sem serviços básicos, por não ser mais considerada uma área designada aos brancos, o vão que fica no meio do prédio se tornou uma grande lixeira e os entulhos chegaram a alcançar o 14º andar. Inacreditável!

Atualmente o Ponte City está reformado, cheio de moradores e no andar térreo abriga alguns pequenos estabelecimentos, entre eles, a Dlala Nje. Um empreendimento social que através do turismo no local obtém a receita necessária para manter as atividades de apoio às crianças e jovens da comunidade local. Ficamos muito felizes ao conhecer o trabalho deles e ver como o valor que pagamos pelo tour é bem aplicado. 😉

Depois dessa visita fomos direto para o Constitution Hill. O local é um complexo prisional desativado, que durante o regime do Apartheid foi utilizado para prender os “não brancos” que lutavam contra a repressão. Por lá estiveram presos Mahatma Gandhi, Winnie Mandela e Nelson Mandela. A ala número quatro era designada aos negros menos conhecidos e a visita é chocante. Uma única cela chegava a ter 70 presos, enquanto o projeto era para abrigar apenas 30. Os banheiros ainda ficavam dentro da própria cela, sem qualquer privacidade. Uma lembrança muito triste das atrocidades da época.

Hoje, nesse mesmo complexo, está a sede da Suprema Corte da África do Sul. Dessa forma, os juízes do país, que têm como responsabilidade assegurar que os direitos de seus cidadãos sejam preservados, são lembrados diariamente das injustiças já cometidas no país. Por lá, o fogo está sempre aceso e uma citação traz a esperança de dias sempre melhores: “Que a chama da democracia nunca se apague”. Que assim seja!

Depois de cinco dias de muito aprendizado em Joburg, na quarta-feira pela manhã nos despedimos da cidade e seguimos viagem pela África do Sul em direção ao Parque Nacional do Kruger.

Uma resposta para “Joanesburgo”.

  1. Vimos o filme e adoramos , fica o gostinho de quero mais para um dia conhecer Joanesburgo

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